“O planeta é finito. Precisamos usar materiais sustentáveis na Engenharia”, diz palestrante durante Seminario Regional na UFCA

Publicado em 22/10/2019. Atualizado em 31/10/2022 às 17h34

Foto: Mariana Caselli - Dcom/UFCA

Prognóstico das construções, inovações tecnológicas e uso de materiais ainda incomuns no cotidiano das Engenharias marcam a edição 2019 do Seminário Regional de Inovação na Engenharia Civil, promovido pela Universidade Federal do Cariri (UFCA), em parceria com diferentes Universidades, instituições privadas e Institutos de Tecnologia, entre eles os Institutos Federais de Educação (IFs) de Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, além das Universidades Federais do Ceará (UFC), da Paraíba (UFPB), de Campina Grande (UFCG) e Rural do Semi-Árido (Ufersa). Durante todo o dia, no Auditório Beata Maria de Araújo do campus Juazeiro do Norte da UFCA, o público terá acesso a minicursos, palestras e mesas-redondas relacionados ao tema deste ano, que é “Pesquisas, sustentabilidade e inovação: desafios na Engenharia”.

Deram as boas-vindas aos presentes o Reitor da UFCA, Ricardo Ness, a Vice-Reitora, Laura Hévila (também Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação – PRPI/UFCA), a Coordenadora do Curso de Engenharia Civil, Silvana Alcântara, o Coordenador Geral do evento e também Professor do curso de Civil na UFCA, Professor Aerson Moreira e o Diretor do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT/UFCA), Ary Ferreira.

Abrindo as falas, Aerson lembrou que a Engenharia Civil não está dissociada de nenhuma das demais Engenharias e que os estudantes dessas áreas devem pensar, juntos, práticas melhores nos seus campos de atuação: “Esse evento é voltado para estudantes de todo o Cariri, para fortalecer a região de pesquisa, de inovação e de práticas sustentáveis [na Engenharia]”, disse. Na sequência, a Vice-Reitora da UFCA destacou a abordagem da sustentabilidade no seminário: “Como bióloga de formação, me sinto muito contemplada com esse evento e muito feliz, porque vocês estão discutindo a inserção da sustentabilidade na área de vocês: uma área tão importante, que trabalha com desenvolvimento. Estamos não só ajudando a questão ambiental, mas também indo ao encontro da missão da UFCA, que é o desenvolvimento sustentável”, refletiu Laura.

Silvana Alcântara, por sua vez, exaltou a boa quantidade de presentes no auditório, que estava cheio, e Ary Ferreira lamentou a contração do seminário em apenas um dia, em vez de três como no ano pasado, por consequência do cenário de contingenciamento orçamentário vivido atualmente pela Universidade: “O projeto em si era bem maior, mas esse dia atípico traz também muito proveito em termos de educação ativa. A tendência hoje do mercado é trazer o(a) engenheiro(a) para fora da sala de aula e trazer essa experiência extraclasse para enriquecimento do currículo”, afirmou Ary. Finalizando a mesa, e o Reitor da UFCA recordou a visita de representantes da Universidade Soka, nesta segunda-feira (21), também no campus Juazeiro do Norte, na qual foram explanados o engajamento e as ações da UFCA relacionados a tecnologias sociais, na perspectiva de contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas: “Certamente o que está aqui [seminário] vai fazer parte de um grande catálogo que a gente quer construir, com tecnologias sociais, para levar à ONU e assim conseguir apoio para os projetos desenvolvidos na UFCA”, finalizou Ricardo.

Cura do Concreto

Após a mesa de abertura, o Tecnólogo em Construção de Edifícios, Igor Silva, formado no Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE) em Juazeiro do Norte, proferiu palestra sobre cura e resistência do concreto. Cura é um procedimento de hidratação do concreto para diminuir os efeitos da evaporação prematura da água na estrutura moldada, evitando assim fenômenos indesejados, como fissuras. É a reação entre o cimento e a água que origina as características pelas quais o concreto é usado nas construções, entre elas o endurecimento. Em uma contribuição bastante técnica, Igor – também Mestre em Engenharia Civil – chamou atenção para detalhes nem sempre considerados pelos engenheiros, mas que podem gerar diferenças entre a resistência esperada e a efetivamente adquirida na cura do concreto: “O tempo de mistura é muito importante também, porque interfere na homogeneidade. Até mesmo o transporte de concreto em um carrinho de mão, por 50 mestros, segrega o material pela vibração. O que é segregar? É separar os agregados na composição do concreto. O agregado mais pesado, que é a brita, vai descer [durante a segregação], então vai criar mais vazio na composição, o que vai interferir na resistência”, argumentou.

Planeta Finito

Em seguida, os presentes assistiram à mesa-redonda “Desenvolvimento sustentável do bambu na região Cariri para uso na Engenharia”, com contribuições do Engenheiro Civil e Professor da UFC, Alexandre Bertini, do Engenheiro Agrônomo e Professor da UFPB, Leonaldo Alves e do Engenheiro Civil, também professor da UFPB, Normando Perazzo (foto); com mediação do Professor da UFCA e Coordenador do Laboratório de Estruturas do Curso de Civil, o colombiano Erwin Palechor.

Normando Perazzo iniciou sua fala com fortes críticas ao incentivo do consumismo, que é próprio do sistema capitalista: “A gente está vivendo em um sistema contra o próprio futuro da humanidade. A gente tem que ter consciência de que vive em um planeta finito. Estamos vivendo no sistema capitalista, que é baseado no consumo. Como vou basear [o modo de viver da sociedade] no consumo, em um ambiente que é finito? Então, criam-se maluquices, como essa Black Friday [semana de promoções promovidas geralmente em novembro], para pessoas comprarem coisas de que nem precisam, só por causa da propaganda. Esse capitalismo atual não tem freios, não tem limites”, opinou.

Depois de Perazzo, foi a vez do professor Leonaldo Alves relatar sua experiência com o bambu. Professor no campus Areia da UFPB, Leonaldo apresentou espécies com diferentes diâmetros e propriedades, geralmente cultivadas em regiões de brejo. Apesar do potencial de inovação nas construções, ele relata dificuldades no desenvolvimento de pesquisas e também na retirada de bambu das áreas cultivadas na UFPB: “Eu não sei aqui na UFCA, mas a gente não tem funcionários, não tem motosserra. Quando eu faço um projeto, eu sou o elaborador do projeto, sou o executor, sou o contator, sou o eletricista que conserta a lâmpada que queimou e ainda conserta a telha quando quebra para a água não cair em cima dos equipamentos. Então, a gente não tem tempo nem condição de fazer essa limpeza. Uma colega professora, arquiteta, vai visitar o campus com seus alunos e nos pediu bambu. E eu disse ‘Ah, a gente doa, mas traga uma motosserra e uns três cabras dispostos, porque a gente não tem'”, disse, com bom humor.

Trazendo a discussão para o campo das Engenharias, Perazzo apresentou o bambu como alternativa sustentável ao uso de materiais cuja demanda de energia não renovável é muito alta na sua produção, como o cimento (1.450°C), o alumínio (1.000°C) e a cerâmica (1.200°C): “materiais industrializados consomem matéria prima, muita energia e esgotam o planeta, o bambu é renovável e consome energia solar; materiais industrializados danificam a natureza porque não são reincorporados facilmente, bambu pode ser usado para restaurar áreas degradadas; industrializados precisam de investimentos e instalações caríssimas, bambu se desenvolve na natureza, de graça; industrializados são usados porque têm ótimas própriedades mecânicas, bambu também tem ótimas propriedades mecânicas”, enumera. Conforme o docente, países como a China já utilizam o material em construções de grande porte.

Depois de Perazzo, foi a vez do professor Leonaldo Alves relatar sua experiência com o bambu. Professor no campus Areia da UFPB, Leonaldo apresentou espécies com diferentes diâmetros e propriedades, geralmente cultivadas em regiões de brejo. Apesar do potencial de inovação nas construções, ele relata dificuldades no desenvolvimento de pesquisas e também na retirada de bambu das áreas cultivadas na UFPB: “Eu não sei aqui na UFCA, mas a gente não tem funcionários, não tem motosserra. Quando eu faço um projeto, eu sou o elaborador do projeto, sou o executor, sou o contator, sou o eletricista que conserta a lâmpada que queimou e ainda conserta a telha quando quebra para a água não cair em cima dos equipamentos. Então, a gente não tem tempo nem condição de fazer essa limpeza. Uma colega professora, arquiteta, vai visitar o campus com seus alunos e nos pediu bambu. E eu disse ‘Ah, a gente doa, mas traga uma motosserra e uns três cabras dispostos, porque a gente não tem'”, disse, com bom humor.

Seminário Regional de Inovação na Engenharia Civil

O Seminário Regional de Inovação na Engenharia Civil continua na tarde desta terça-feira. A palestra Engenharia Diagnóstica – desafios contemporâneos” será proferida por Luiz Alves Marinho, professor do Instituto Tecnológico do Cariri, ligado à Universidade Regional do Cariri (Itec/Urca). Depois, o tema “Inovações tecnológicas na Construção” será abordado na palestra do professor Carlos Henrique Caldas, da Universidade do Texas em Austin (UT – Austin), que está nos Estados Unidos. A palestra será transmitida para os participantes do seminário por videochamada.

Serviço

Curso de Engenharia Civil – UFCA
Bloco A, Sala 18
(88) 3221-9568
engcivil.cct@ufca.edu.br