Semana do Alimento Orgânico da UFCA discute caminhos para a agricultura familiar no Cariri

Publicado em 07/06/2018. Atualizado em 31/10/2022 às 11h16

Realizada pela Universidade Federal do Cairi (UFCA), em parceria com o Instituto Federal do Ceará (IFCE) – campus Crato, com o apoio da empresa de assessoria técnica HD Quality e a ONG Associação Cristã de Base (ACB), a Semana do Alimento Orgânico da UFCA ocorreu no último dia 30 de maio, e contou com palestras discutindo a produção orgânica e questões sobre a origem e o consumo de alimentos. O evento faz parte de uma série de ações que visam sensibilizar a comunidade local para o consumo de alimentos sustentáveis por meio do apoio à agricultura familiar.

Estiveram presentes o reitor Pro Tempore da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Ricardo Luiz Lange Ness, o coordenador do curso de Agronomia da UFCA, Sebastião Cavalcante de Sousa e o vice-diretor do CCAB, o professor Antônio Nélson Lima da Costa. Na ocasião, o reitor Pro Tempore destacou a importância do evento e o papel da Universidade para fortalecimento da produção agroecológica do Cariri.

A palestra “Histórico e conceitos da produção orgânica”, com Hanna Dantas, especialista em gestão da qualidade e segurança de alimentos e representante da HD Quality, fez um apanhado da história da produção de alimentos desde a década de 20 até a atualidade. Hanna chamou a atenção para teóricos que tratam da agricultura e da sua relação com o ser humano enquanto unidade produtiva, como Mokiti Okada, que definiu a agricultura como um fator cultural, valorizando o solo como fonte primordial da vida.

Hanna alertou para a tramitação de uma nova proposta de lei que flexibiliza as regras para fiscalização e utilização de agrotóxicos no País. A PL tem sido amplamente criticada, segundo a matéria contrária à proposta no site do greenpeace, a verdadeira modernização da agricultura seria investir na produção sem veneno, dando às técnicas de base ecológica a mesma oportunidade que é dada à agricultura convencional. De acordo com o greenpeace, o conceito do “moderno” na agricultura atualmente é investir no que é justo, sustentável e saudável.

O convidado João Paulo Bezerra, tratou do tema “Microbiologia do solo” abordando o seu papel na agricultura. João Paulo explicou que a exigência imediata da produção em larga escala deixa de lado as necessidades biológicas como a nutrição e fertilidade do solo e a sanidade das plantas. Segundo afirmou, é preciso haver o equilíbrio dinâmico entre os organismos que interagem no solo, pois cada um deles possui funções específicas, como por exemplo a ciclagem de nutrientes e a degradação de poluentes.

Alimentação saudável valoriza práticas sociais

A professora Brisa Cabral (IFCE) falou da “Origem e consumo de alimento saudável”. Brisa explicou que o conceito de alimento saudável abrange desde a valorização do solo, às relações sociais que perpassam a produção, colheita e comercialização. “A alimentação saudável valoriza práticas sociais”, afirma. Segundo a professora, para que um alimento seja saudável e de fácil acesso a população, são necessárias Políticas Públicas de promoção e valorização desses alimentos, mas, o que ocorre na realidade é que essas políticas têm financiado práticas agrícolas estreitas como a soja, o milho e o trigo.

“Em geral as produções de larga escala não produzem alimentos saudáveis, pois fazem uso de grandes quantidades de agrotóxicos. Além das grandes monoculturas, a pecuária extensiva, que também é financiada por políticas públicas, degrada o solo, demandam alto consumo de água e adentram florestas e áreas de preservação. O alimento saudável provém da agricultura familiar, pois ela produz uma pluralidade de alimentos”, destaca.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta diversos documentos que orientam a formulação de políticas de saúde, sendo atualmente a alimentação e a nutrição considerados como elementos chave na definição dos objetivos, estratégias e recomendações nos seus diversos programas e políticas. Brisa explicou que de acordo com a OMS, uma alimentação saudável deve ser baseada em práticas alimentares assumindo a significação social e cultural dos alimentos como fundamento básico conceitual. “Os alimentos trazem significações culturais, comportamentais e afetivas singulares que jamais podem ser desprezadas e a abordagem do alimento como fonte de prazer também é necessário para promoção da saúde”, disse.

De acordo com texto da OMS, O setor público precisa assumir a responsabilidade de fomentar mudanças sócio–ambientais, em nível coletivo, para favorecer as escolhas saudáveis no nível individual. A responsabilidade compartilhada entre sociedade, setor produtivo e setor público é o caminho para a construção de modos de vida que tenham como objetivo central a promoção da saúde e a prevenção das doenças. Assim, é pressuposto da promoção da alimentação saudável ampliar e fomentar a autonomia decisória por meio do acesso à informação para a escolha e adoção de práticas alimentares saudáveis.

Brisa afirma que comprando nas prateleiras de grandes empresas e supermercados, a maioria da população não consome alimentos saudáveis. No Brasil os subsídios oferecidos pelo governo aos commodities, fazem com que os alimentos processados sejam mais baratos, e agravando essa situação, temos a formação acadêmica na área voltada para a produção em larga escala.

Commodities são produtos que funcionam como matéria-prima, produzidos em larga escala, eles podem ser estocados sem perda de qualidade, como petróleo, suco de laranja congelado, boi gordo, café, soja e outros. O termo vem do inglês commodity e significa “mercadoria”. Sendo assim, seu preço é determinado pelo mercado mundial como uma consequência da oferta e demanda, e não pela empresa que o produz.

Segundo Brisa, precisamos repensar essa realidade e parar de seguir os padrões impostos pela grande indústria, consumindo alimentos saudáveis e fortalecendo as relações locais com a agricultura orgânica e familiar.

Projeto “Elaboração de Produtos Orgânicos provenientes da Agricultura Familiar no Cariri” culmina em Cadastro da Primeira OCS da Região
A primeira OCS (Organismo de Controle Social) constituída por nove agricultores provenientes da Região do Cariri foi protocolada no último dia 04 de maio no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Fortaleza-Ce. Tal cadastramento possibilita o agricultor familiar a vender seus produtos diretamente ao consumidor e participar de Programas Governamentais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). De acordo com a coordenadora do projeto, professora Maria Inês Rodrigues Machado (UFCA), até o momento esses produtores comercializam seus produtos por meio de Feiras Agroecológicas, sem o reconhecimento oficial como produto orgânico. “O protocolo representa o reconhecimento desses produtores pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que assegura a qualidade orgânica dos produtos”, explica.

A ação está vinculada ao “Projeto de Elaboração de Produtos Orgânicos provenientes da Agricultura Familiar no Cariri”, promovido pela pró-reitoria de extensão (PROEX) da UFCA em Parceria com a Associação Cristã de Base (ACB) e a empresa HD Quality. O projeto busca valorizar a sociobiodiversidade do Cariri, promovendo aos agricultores a segurança alimentar, diversidade nutricional, preço justo para sua produção, equidade social e a igualdade de gênero, e é ainda uma possibilidade para o aumento de renda e melhoria da qualidade de vida do produtor e sua família.