Consuni/UFCA emite moção de repúdio contra ataques à Filosofia

Publicado em 21/05/2019. Atualizado em 31/10/2022 às 17h06

Arte com fundo verde e os dizeres: Moção de repúdio Contra ataques à filosofia
Divulgação – Núcleo de Identidade Visual. Dcom/UFCA

Reunido na tarde da última quinta-feira (16), o Conselho Universitário da Universidade Federal do Cariri (Consuni/UFCA) emitiu moção de repúdio aos questionamentos referentes à importância de cursos superiores de Filosofia no Brasil. No fim de abril passado, foi divulgado que o Governo Federal estuda fazer cortes nos investimentos em cursos de humanas nas universidades federais, principalmente os de Filosofia e de Sociologia.

Leia a moção, na íntegra, emitida pelo Consuni/UFCA :

O Conselho Universitário da Universidade Federal do Cariri (Consuni/UFCA) manifesta sua imensa preocupação com o contexto atual em que vivemos nas Universidades brasileiras, caracterizado pela ignomínia e infâmia infligida, por parte dos governantes, às Ciências Humanas e Sociais, tendo como principal alvo a Filosofia e a Sociologia.

Dado esse contexto caótico, sentimo-nos no dever de apresentar à comunidade a nossa moção de repúdio aos detratores da Filosofia e, em contrapartida, declarar o nosso apoio ao livre exercício do pensamento no âmbito da UFCA. Antes de tudo, é nosso dever defender a Universidade pública, não apenas porque dela retiramos a nossa sobrevivência, através do nosso árduo trabalho, mas sobretudo porque entendemos que o progresso das civilizações e o desenvolvimento social da espécie humana, ao longo da História, não ocorreria em larga escala sem o conhecimento em Filosofia, haja vista que, no seio desta, foram geradas todas as ciências modernas.

A nossa preocupação é que o efetivo desprezo pela Filosofia, manifestado pelo hodierno poder público, revela-nos um projeto de país obscurantista, no qual está em jogo a intenção mais profunda de restringir os espaços onde a nossa humanidade possa aparecer de forma pura e luminosa. É desolador perceber que os detratores da Filosofia governam o destino deste país e ignoram a dimensão essencial da condição humana – a saber, o pensamento e seus modos de pensar – sem a qual perderemos a nossa identidade e a nossa forma de ser no mundo.

Quando a Idade Média pensava em fundar as primeiras Universidades, as Escolas Filosóficas já existiam há séculos. Os gregos entendiam que a vida justa e feliz não haveria de existir se os humanos não se propusessem a pensar o que é a justiça e o bem comum da cidade. Boécio, no cárcere, escrevia: A Filosofia é quem conduz o homem à sua própria natureza, isto é, à razão; é quem o encaminha até a sabedoria, torna-o sábio, virtuoso, justo e bom; é ela quem, através de uma incessante reflexão, ilumina a nossa capacidade de enxergar o invisível, ou seja, aquilo que não se apresenta de imediato e distintamente visível à consciência humana. Entretanto, no mundo em que não somente a bondade, mas a própria capacidade humana de agir para o bem se tornam invisíveis, a Filosofia, por seu turno, permanece para nós como último refúgio para mantermo-nos na esperança. Ora, quando somos arrebatados de nossa capacidade de pensar e exercitar o pensamento crítico, o que restará de nossa humanidade? Nada mais! Não seremos humanos, mas objetos autômatos, teleguiados.

O conhecimento em Filosofia nos abre horizontes para uma vida mais autêntica, porque rompe com as verdades preestabelecidas dos modelos pragmáticos e utilitaristas que visam às formas cruéis de instrumentalização das massas. Desse modo, a Filosofia é considerada irreverente, ela não se acomoda aos ritos e às convicções hospedados na letargia dos poderes.


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