“E se puder o negro pensar?”: em alusão ao Dia da Consciência Negra, servidor da UFCA reflete sobre negritude no Ensino Superior
Publicado em 20/11/2022. Atualizado em 20/11/2022 às 10h59
Cauê Henrique é egresso do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e atualmente é servidor da Universidade na Pró-Reitoria de Cultura (Procut/UFCA). Embora tenha experienciado vivências do universo acadêmico de dois pontos de vista diferentes, Cauê afirma que falar sobre negritude e universidade é uma tarefa difícil, mas necessária.
Leia na íntegra as reflexões do servidor sobre a temática:
Falar de negritude e universidade não é uma tarefa fácil. Principalmente porque essas são ideias que passaram a andar juntas bem recentemente, quando pessoas negras colheram alguns frutos dos anos de luta pela educação.
Existe um lugar que a academia impõe a pessoas negras. Sueli Carneiro vai falar de epistemicídio para abordar a forma como certos saberes são impostos como universais e absolutos, enquanto outras produções de conhecimento ficam à margem do grande pódio intelectual da humanidade.
O lugar das pessoas negras no fazer acadêmico parece um grande mar a ser ainda compreendido. Alguns já aprenderam o movimento das ondas antes de nós, Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Frantz Fanon, entre tantos outros e outras que marejaram o conhecimento. Não sei ao certo se nossa missão aqui é necessariamente navegar em enormes barcos desbravando os mares. Tampouco estou aqui para ditar o caminho. Mas que as águas nos livrem dos delírios coloniais de descobrimento.
Particularmente, eu passei muito tempo vendo a universidade como um “espaço em branco”. Às vezes, porque era um lugar de reinvenção, às vezes, porque existia um vácuo nas histórias que poderiam compor também a minha. Os que vieram antes de mim são constantemente apagados. E isso às vezes leva meus pés à madeira rígida dos navios coloniais.
Mas encontrar os riachos ajuda a entrar no mar com mais calma e cautela. Seguir os pequenos passos da água ajuda a lidar com a ressaca da maré. É o encontro com as referências, lendo Kabengele Munanga e Angela Davis, revisitando Lima Barreto e Conceição Evaristo, debatendo Grada Kilomba e Alex Ratts, que o caminho parece abrir mais fluido e possível.
Falar de negritude e universidade não é uma tarefa fácil. Mas deve ser feita.