Egressa de design da UFCA publica artigo em revista Qualis A1. Trabalho destaca a criação de material didático em libras para pessoas com deficiência visual

Publicado em 27/01/2025. Atualizado em 27/01/2025 às 16h25

Emanueli Viana, egressa do curso de design da UFCA. Foto: Davi Moreira - Dcom/UFCA

Como fazer uma pessoa com deficiência visual aprender sinais da língua brasileira de sinais (Libras)? Transpor uma linguagem essencialmente visual para uma pessoa cega foi o desafio que o grupo de pesquisa Computation and Design (CoDe), da Universidade Federal do Cariri (UFCA), abraçou nos últimos anos. 

A designer Emanueli da Silva Viana, egressa do curso de design da UFCA, é integrante do CoDe e, lá, teve a ideia de construir o artigo “Alfa Libras 3D: uma ferramenta inclusiva para auxiliar na aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais”. O trabalho foi recentemente publicado pela revista Design e Tecnologia, com Qualis A1 na área de Arquitetura/Urbanismo e Design. O periódico está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PgDesign/UFRGS). O processo de publicação do artigo na revista durou cerca de um ano – entre 2023 e 2024. 

Emanueli é egressa do curso de design da UFCA e se formou em 2023. Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

O trabalho desenvolveu materiais didáticos inclusivos, com a intenção de contribuir para o processo de ensino-aprendizagem do estudante de música da UFCA Jefferson Araújo, que  tem deficiência visual. Para alinhar o desenvolvimento do projeto, Emanueli realizou reuniões com Jefferson, com o então coordenador do curso de música, Carlos Renato Brito, e com a professora Ana  Kelly  Fernandes, que ministraria a disciplina de Libras. 

Para alcançar o objetivo, Emanueli adotou a metodologia de criar cartões, cada um com a representação de uma mão, em 3D, sinalizando uma letra do alfabeto em libras. Antes dos cartões, segundo Emanueli, Jefferson tinha acesso aos sinais em Libras durante as aulas, por meio de audiodescrição.

Além de Libras, também havia nos cartões a referência de cada letra em português escrito e em braille. Conforme Emanueli, a apresentação do alfabeto em diferentes linguagens buscou proporcionar o acesso à aprendizagem de Libras pelo maior número de pessoas possível, com a interação de um público mais diverso dentro da sala de aula.

Os cartões foram criados por meio de fabricação digital e de impressão 3D junto ao CoDe – coordenado pela professora da UFCA, Deborah Macedo. Deborah também participa da pesquisa como coautora.

Além do artigo publicado na revista da UFRGS, a pesquisa foi tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Emanueli, defendido em 2023.

“Tivemos que pensar em formas de transformar essas informações visuais em táteis. Na pesquisa de alternativas, nos deparamos com a escassez de materiais pedagógicos voltados para Pessoas com Deficiência (PcDs). Assim, tivemos que idealizar um projeto do zero, com um design único e personalizado, para solução do problema”, explica Emanueli.

Métodos de criação dos cards

Ao todo, foram desenvolvidas 26 peças no formato de cartões. Os cards indicam a posição exata das mãos ao sinalizar, em Libras, cada letra do alfabeto. No caso específico das letras “H”, “J”, “K” e “Z”, nas quais há a necessidade de movimentação para sinalizá-las, foi incluída uma seta na direção do movimento em questão.

Resultado final dos cartões desenvolvidos no Alfa Libras 3D. Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

Emanueli explicou que foram realizados testes com diferentes ferramentas e técnicas para identificar a que melhor atenderia a proposta para digitalização dos sinais em Libras. Essa etapa do processo, ainda de acordo com a pesquisadora, foi uma das fases mais demoradas, pois a equipe buscava alcançar “um modelo em 3D dos sinais em libras mais próximo possível da representação da mão humana”.

Foram testadas, por exemplo, técnicas de compilação de fotos para criar um modelo 3D e também de uso de um sensor Kinect de Xbox (aparelho que capta movimentos corporais de jogadores). Após resultados insatisfatórios, o projeto decidiu usar dois programas diferentes para impressão dos cartões: o Blender (suíte de criação 3D gratuita e de código aberto) e o Rhinoceros (software de modelagem 3D). O primeiro fez a modelagem dos sinais em Libras e o segundo criou os cards com todos os elementos que os compõem.

Resultados

Após finalizadas, as peças passaram por validação do próprio estudante, que conseguiu rapidamente identificar todos os elementos representados e, ainda, reproduzir os sinais em Libras.

Os cards também passaram pela aprovação de Ana Kelly, que confirmou a identificação dos sinais e validou os cartões como material didático a ser usado nas aulas de Libras.

Conforme Emanueli, com o projeto pronto, foi possível também ter um feedback do resultado junto a diferentes públicos na Feira do Conhecimento – que ocorreu em Fortaleza em novembro de 2022: “A feira proporcionou avaliar o projeto quanto ao caráter inovador, como também incentivar o interesse das pessoas em conhecer e aprender libras”, destacou.

O resultado do projeto também foi exposto para a comunidade surda do Cariri na Semana de Letras-Libras, realizada pela licenciatura em letras-Libras ofertada pela UFCA.

Sobre os impactos da pesquisa, Emanueli destacou a inclusão e a facilitação do processo de aprendizagem para pessoas com ou sem deficiência: “Espera-se que o Alfa Libras 3D possa ser um meio que contribua para que todos tenham o direito a uma educação inclusiva, de qualidade e equitativa”, finaliza.

Serviço

Curso de bacharelado em design
design.iisca@ufca.edu.br