Música abre série especial que marca os 15 anos de quatro graduações da UFCA. Engenharia de materiais, jornalismo e design completam lista

Publicado em 25/04/2025. Atualizado em 25/04/2025 às 13h56

A trajetória do atual curso de licenciatura em música da Universidade Federal do Cariri (UFCA) é tema do primeiro conteúdo de uma série especial que comemora os 15 anos de quatro graduações da universidade caririense: jornalismo, engenharia de materiais, design e a já citada licenciatura em música. 

A série, produzida pela Diretoria de Comunicação (Dcom/UFCA), reúne depoimentos, fotos e registros da trajetória desses quatro cursos, em conteúdos multimídia, a serem publicados durante o primeiro semestre de 2025.

A oferta desses cursos no Cariri foi consequência de diversos fatores integrados, entre os quais se pode citar, em maior peso, a adesão da UFC ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). O Reuni, criado em 2007, objetiva incrementar a oferta de vagas do ensino superior federal e descentralizar essa oferta, à época concentrada nos grandes centros urbanos do Brasil (ver Reuni e a interiorização das Ifes).

“As artes ainda são compreendidas como algo acessório”

Assim reflete o professor Elvis Matos, do curso de música da Universidade Federal do Ceará (UFC). Para o docente, a arte é uma poderosa forma de expressão humana, que leva ao autoconhecimento e, portanto, à transformação de si e da realidade que o cerca: “Essa é a necessidade da presença das artes nos processos de formação. Por isso, a premência [urgência] que sejam formados professores críticos, reflexivos, com os pés na realidade concreta na qual eles atuam”, acredita.

Elvis compôs um seleto grupo de professores que trabalharam na criação, em 29 de agosto de 2005, do então curso de educação musical da UFC, modalidade licenciatura. A oferta de vagas, na época, destinava-se apenas à capital do estado, Fortaleza.

A imagem mostra um homem ajoelhado no chão, tocando um instrumento de percussão melódico preto, semelhante a um tambor de língua de aço ou "tongue drum". Ele está usando roupas brancas, óculos e tem barba e bigode grisalhos. Ele segura duas baquetas pretas e parece estar concentrado na música.

Ao lado dele, à direita, uma mulher com uma faixa preta na cabeça está sentada no chão, com os olhos fechados, parecendo estar ouvindo a música. Ao lado dela, um homem mais velho com óculos também está sentado, observando.

O ambiente parece ser uma sala com piso claro e grandes janelas ao fundo, através das quais se pode ver o exterior escuro com o que parecem ser gotas de chuva no vidro. Há cadeiras azuis e outros objetos indistintos no fundo. A iluminação da sala é suave, criando uma atmosfera calma e focada na música.
Professor Elvis Matos, do curso de música da UFC.
Foto: acervo pessoal – Elvis Matos

Anos mais tarde, em 2009, a UFC passaria a oferecer 40 vagas anuais do seu curso de educação musical também no então campus Cariri – que se tornaria Universidade Federal do Cariri (UFCA) em junho de 2013. Na região, as aulas do novo curso só começaram no ano seguinte, no período letivo 2010.1. Com apenas os primeiros blocos já concluídos no campus Juazeiro do Norte, os novos discentes foram recepcionados no pátio do campus.

“Lembro que a professora Izaíra Silvino, que era a coordenadora do curso de música, cantou na ocasião e a fala-canto dela aconteceu antes de qualquer autoridade ali representada”, recorda professor Carlos Renato Brito, então estudante de educação musical (primeira turma), atualmente docente do curso de música da UFCA.

“Foi um cânone coral chamado Banaha, no dia da matrícula no curso”, recorda Carlaízes Borges, contemporânea de professor Carlos Renato, também egressa do curso de música da UFCA. Segundo professora Carlaízes, o cânone, uma canção folclórica no Congo, pode ser interpretado como um termo de saudação – o que se mostrou apropriado para uma recepção de novos estudantes.

“Foi lindo como, em tão pouco tempo, cantamos bem afinados um cânone e já a três vozes. Naturalmente, essa canção nos acompanhou até o fim do curso. Naquele momento, a música, por meio da condução de Izaíra, uniu a turma, mesmo que não nos conhecêssemos ainda. Foi pura beleza!”, lembra.

Izaíra Silvino

Não haveria hoje curso de música na UFCA sem o desejo pulsante da professora e musicista Izaíra Silvino (1945 – 2021), à época já aposentada pela UFC, em expandir, para o Cariri, um movimento, iniciado em Fortaleza, de criação de cursos na instituição, no campo de artes.

A imagem mostra pessoas mais velhas sorrindo e olhando para a câmera. O homem à esquerda está sentado em uma cadeira e veste um boné preto, uma jaqueta marrom com detalhes em cinza e branco, e uma camisa azul clara. Ele parece estar segurando um livro aberto em suas mãos.

A mulher à direita também está sentada em uma cadeira e veste uma blusa rosa vibrante com detalhes florais bordados e calças escuras. Ela usa óculos e tem cabelos grisalhos cacheados. Ela está com a boca aberta em uma expressão de alegria e riso.

Ao fundo, há uma parede azul com vários objetos em uma prateleira de madeira. É possível observar um calendário de 2014, uma imagem de uma santa católica, um retrato emoldurado de uma pessoa mais jovem, livros e outros itens diversos, incluindo um crucifixo dourado pendurado na parede à direita da prateleira.
Izaíra Silvino, primeira coordenadora do curso de música da UFCA, com Padre Ágil, expoente da educação musical no Cariri.
Foto: acervo pessoal – Izaíra Silvino

“Tive o privilégio de ter convivido com ela, tanto em Fortaleza quanto aqui no Cariri. Ela atuava como instrumentista: tocava violino, tocava bandolim, era regente de grupos corais e ela fez um trabalho maravilhoso, em Fortaleza e aqui no Cariri também. Então, ela nos deixou um legado educativo, um legado social… poucos se igualam ao legado potente que a professora Izaíra nos deixou”, reflete professor João Luís Soares, atual coordenador do curso de música da UFCA (do qual é docente desde 2016).

A UFC, que daria origem à UFCA, ainda carecia, até o início dos anos 2000, de cursos específicos do campo de artes – apesar de manter equipamentos culturais importantes para o estado. Além da relevância de graduações em artes, havia carências na qualificação de professores para a oferta de formações artísticas no Ceará (até mesmo em Fortaleza).

“A UFC já tinha um histórico de realização de muitos projetos culturais, de atividades artísticas, do Teatro Universitário, do Museu [de Arte da UFC], da Casa Amarela, da Rádio Universitária, do Conservatório Alberto Nepomuceno etc. No entanto, não oferecia, até então, cursos de graduação em artes. Após o curso de educação musical de Fortaleza, iniciado em 2005, veio o curso do Cariri e o de Sobral, em 2011. Havia um grupo organizado pensando nisso”, recorda professor Márcio Mattos, docente da UFCA desde o início do curso de música no Cariri. 

Entre os integrantes desse grupo organizado a que se refere professor Márcio, estavam o reitor da UFC à época, Jesualdo Farias, o atual reitor da UFC, Custódio Almeida, e os professores do curso de música da UFC Luiz Botelho e Elvis Matos.

Da esquerda para a direita, professor Jeová Torres (CCSA/UFCA), professor Custódio Almeida (atual reitor da UFC), estudantes de administração da UFC Cariri  e Jesualdo Faria (então reitor da UFC à época da criação do curso de música, em outubro de 2009), durante Feira das Profissões no então campus Cariri. Foto: acervo – Dcom/UFCA

“Fui procurado pelo então diretor do campus Cariri da UFC, Ricardo Ness, que buscava informações sobre a implantação do curso de educação musical aqui em Fortaleza. Ele me disse que havia uma vontade interna [de implantar o curso no Cariri] por parte de alguns membros do corpo docente da universidade, que estavam pensando nessa possibilidade”, relata professor Elvis Matos. 

De acordo com Elvis, professora Izaíra, após a aposentadoria na UFC, residiu poucos anos em Brasília-DF e retornou para o Ceará; porém, radicando-se no Crato, no Cariri, em vez de Fortaleza.

A imagem mostra um quarteto de cordas se apresentando em um ambiente que parece ser ao ar livre ou semiaberto, possivelmente um pátio coberto ou varanda de um prédio.
Da esquerda para a direita, vemos:
Um homem mais velho, de camisa branca e calça escura, tocando violino.
Uma mulher de vestido azul, usando óculos, também tocando violino.
Um homem mais jovem, de camiseta preta e óculos escuros, tocando viola (instrumento ligeiramente maior que o violino).
Um homem mais jovem, de camiseta cinza, tocando violoncelo ou contrabaixo acústico.
Todos os músicos têm estantes de partitura à sua frente e microfones posicionados perto de seus instrumentos, indicando que o som está sendo amplificado. O local tem uma estrutura branca com pilares e um telhado, e parece ser um dia claro. A atmosfera sugere uma apresentação musical informal ou um evento cultural, ao ar livre em um campus universitário ou espaço público
Da esquerda para a direita: professor Marco Antônio Siva, professora Izaíra Silvino, professor Renato Brito e professor Cláudio Mappa, em apresentação no campus Juazeiro do Norte da UFC Cariri, em junho de 2010. Foto: acervo pessoal – Isaura Rute

“Esse retorno da professora Izaíra para o Ceará (e mais especificamente para o Cariri) coincidiu com as minhas interlocuções com o professor Ricardo sobre a possibilidade de criação do curso. Tive a honra, hospedado na casa da professora Izaíra, de levá-la até o campus [Cariri da UFC]. Lá, ela conheceu o professor Ricardo e os dois começaram a trabalhar juntos. Então, logo no início, a professora se colocou como uma liderança para a construção do curso [de educação musical no Cariri]. Ela cancelou a aposentadoria e voltou a trabalhar”, detalha Elvis.

Professor Ricardo Ness (à dir.) em inauguração do campus Juazeiro do Norte da UFCA, em 20 de agosto de 2008. Foto: acervo Dcom/UFCA

Tradicionalmente, na academia, quem lidera os trabalhos para a criação de um curso de graduação torna-se o coordenador do curso em questão. Dessa forma, professora Izaíra foi a primeira coordenadora do curso de educação musical da UFC Cariri, sucedida pouco tempo depois pelo professor Márcio Mattos, em maio de 2010. A mudança de nomenclatura de “educação musical” para “música” veio após uma padronização nacional, realizada pelo Ministério da Educação (MEC), no fim de 2010.

“A primeira coordenadora foi a professora Izaíra Silvino (aposentada) e o vice-coordenador foi o professor Ivânio Azevêdo. Porém, a situação dela, como aposentada, dificultava algumas coisas burocráticas dentro da instituição. Então, foi feita uma ‘eleição interna’ e eu assumi neste período”, recorda professor Márcio, que permaneceu à frente da coordenação do curso até outubro de 2012. 

Márcio Mattos, docente do curso de música da UFCA. Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

Segundo Márcio, ser coordenador da graduação foi uma ótima experiência, porém, muito cansativa: “Foi um período de criar tudo: disciplinas, realizar concursos, contratar professores, comprar equipamentos, instrumentos musicais, fazer projetos para submeter para editais para conseguir recursos etc. Ao mesmo tempo, foi muito gratificante. Aqui, tivemos a oportunidade de começar um projeto novo”, detalha.

Além do contexto do Reuni, do empenho de professora Izaíra e da vontade da comunidade acadêmica do campus Cariri de abrigar o curso de educação musical, foi publicada, em agosto de 2008, a lei nº 11.769, que tornou o ensino de música um componente obrigatório no currículo da educação básica, o que contribuiu para o aumento da demanda por novos professores da área. 

Cariri-Arte

Mestre Dodô (à direita, de coroa azul), do Reisado São Francisco, durante 1ª Semana de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura da UFCA, realizada em fevereiro de 2025. Foto: Vitorino Silva – Dcom/UFCA

A vinda do curso de educação musical da UFC para o Cariri coroa uma intensa atividade artística na região – bem anterior à implantação da universidade na região. 

O Cariri é uma área importante do Nordeste do Brasil, privilegiada pela Chapada do Araripe e suas inúmeras nascentes. A região, frutificada por povos originários, é também uma área de confluência de caminhos estratégicos para o povo nordestino e, além disso, um lugar de destino de romarias – redimensionadas pelo milagre da hóstia que alçou Beata Maria de Araújo e Padre Cícero a figuras nacionais. 

Não por acaso, o Cariri é celeiro de expressões humanas sincréticas, que revelam influências indígenas, árabes, ciganas, africanas, europeias e cristãs – para citar apenas algumas. Tudo isso se traduziu em tradições como os reisados, as bandas de pífano, os grupos de maracatus e de cocos, os emboladores, os bacamarteiros, as meizinhas e tantas outras formas caririenses de experienciar o  mundo.

Cacique Raimundo Berto e liderança Simone Isú-Kariri, durante Sepec/UFCA, em fevereiro de 2025. Foto: Vitorino Silva – Dcom/UFCA

“O fato de o Cariri ter tão fortes tradições culturais, com certeza, foi um dos motivos para que o curso viesse para nossa região”, explica professora Isaura Rute, natural de Juazeiro do Norte e docente do curso desde o início da formação. A professora tomou posse na então UFC Cariri em março de 2010.

“Você transita nessa região e você sente a cultura fluindo, em vários aspectos: religioso, social, político… Eu acredito que o Cariri é um caldeirão de cultura! Os mestres de cultura estão aqui dentro e, por isso, a gente sai para beber nas fontes que eles nos dão. Então, a UFCA só tem a ganhar com a cultura que está no seu entorno”, reflete professora Rute.

Professora Isaura Rute – uma das primeiras docentes do curso de música da UFCA.
Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

No atual Projeto Pedagógico de Curso (PPC) da graduação em música da UFCA, é destacada a singularidade da identidade Cariri e sua imensa riqueza artística, bem como as  diversas ações pedagógicas na área de música na região – como a Sociedade Lírica Belmonte (Solibel), em Crato, a Fundação Casa Grande, em Nova Olinda, e a Orquestra de Rabecas, em Juazeiro do Norte. 

Todas são “iniciativas que estão diretamente ligadas à cena artística caririense que têm, em boa medida, impacto direto na difusão da educação musical na região”, registra o PPC.

Interiorização da UFC

Até 1997, a UFC (nascida oficialmente em 1954) ainda não ofertava cursos fora da capital. A primeira experiência veio com a oferta do curso de direito, na cidade de Sobral, com apoio de diferentes entes públicos, como a prefeitura do município, o governo do Ceará e a Universidade Vale do Acaraú (UVA). Com a consolidação do curso, no entanto, a formação foi desvinculada da UFC e entregue à UVA.

Na UFC, a interiorização de fato da universidade teve início no ano de 2000, ainda antes do Reuni, quando iniciaram as discussões para a oferta do curso de medicina da instituição, nas cidades de Sobral e de Barbalha. 

Inauguração do campus Cariri da UFC, hoje UFCA, em 20 de agosto de 2008.
Foto: acervo Dcom/UFCA

Como já detalhado pela Dcom/UFCA na série especial sobre os 20 anos do curso de medicina em Barbalha, o curso de medicina da UFC no Cariri iniciou com 40 alunos, na antiga sede do Colégio Santo Antônio. O espaço foi doado à UFC, sem contrapartida, em abril de 2000. A aula inaugural foi realizada um ano depois, em 28 de abril de 2001.

Em 2006, também com apoio de vários entes públicos, a UFC expandiu sua presença no Cariri – em espaços provisórios nas cidades de Juazeiro do Norte e do Crato – com outros cinco cursos: administração, agronomia, biblioteconomia, engenharia civil e filosofia. A primeira aula dessas formações ocorreu no dia 18 de setembro de 2006.

Para prover um espaço permanente para os novos cursos, foi construída a primeira etapa do atual campus Juazeiro do Norte da UFCA. O espaço foi inaugurado em agosto de 2008, com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (à época, cumprindo seu segundo mandato), do então ministro da Educação, Fernando Haddad, e de diversas personalidades políticas – entre elas, a então ministra da Casa-Civil, Dilma Rousseff, e Cid Gomes, governador do Ceará à época.

2010: 1º Dia de Aula

Tivemos um seminário de iniciação acadêmica com a presença dos professores do curso de música de Fortaleza Elvis Mattos e Erwin Schrader, pois o nosso corpo docente [próprio] ainda não havia se estabelecido para o início das aulas”, detalha Carlaízes sobre o seu primeiro dia de aula no então curso de educação musical da UFC no Cariri, em 17 de fevereiro de 2010.

“Eu tomei posse em 3 de março de 2010, em Fortaleza, junto ao professor Robson Almeida. Quando chegamos aqui, três professores já estavam atuando: professor Weber [dos Anjos], professor Márcio Mattos e professor Marco Antonio [Silva]. Quando a gente chegou, não havia todos esses blocos. A gente não tinha um bloco só para o curso de música e, por isso, a gente precisava compartilhar salas com outros cursos. Eu passei dois anos trazendo os instrumentos para cá”, recorda professora Isaura Rute.

Professores do curso de educação musical da UFC, no campus Cariri, com parte dos primeiros docentes do curso na região (da esquerda para a direita, fila mais alta): Cláudio Mappa, Robson Almeida, Ivânio Azevedo, Weber dos Anjos. Fila no chão: professora Isaura Rute (de branco). Foto: Acervo Pessoal – Elvis Matos

Para professor Renato Brito (de Belém-PA, radicado no Ceará), o principal desafio da graduação que, então, chamava-se educação musical, foi conciliar as atividades acadêmicas com os compromissos profissionais, uma vez que ele já ministrava aulas de música e atuava como regente de corais, à época.

“Foi muito bom rever alguns conhecimentos musicais e adquirir outros, considerando a partilha dos docentes que estavam ali comprometidos na construção de um novo curso e de uma nova universidade. A partir do curso, pude também conhecer cursos de pós-graduação em outras instituições, no Brasil e no exterior. O curso abriu para mim várias janelas de oportunidades acadêmicas, artísticas e profissionais”, relata.

Professor Carlos Renato Brito, regente do Coral da UFCA, durante apresentação, em fevereiro de 2025. Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

Para Carlaízes – que cursou o ensino médio no distrito de Ponta da Serra, no Crato – foi especialmente desafiador a ainda incipiente estrutura da universidade de então, que, por ser recém-criada, ainda não tinha itens estruturais como ares-condicionados, salas de aula em número suficiente, instrumentos musicais, biblioteca com livros da área e maior oferta de ônibus até o campus.

“Tudo o que vivemos foi parte de um plano piloto que foi amadurecendo e se desenvolvendo, de forma gradual. No entanto, foram experiências que agregam, ainda hoje, muito valor à minha formação profissional e pessoal”, acredita. 

Após formado, professor Carlos Renato ingressou no mestrado e retornou à UFCA tempos depois, como docente do curso: “Fiz uma duas vezes concurso para a UFCA e não passei. Fiz em outras universidades e também não consegui. Na terceira vez que fiz para a UFCA, estudei um pouco mais e consegui passar. Foi uma ocasião muito feliz e muito marcante!”, compartilha. Hoje, o docente já concluiu o doutorado em música, na Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Professora Carlaízes Borges, durante show coral com turma do curso técnico em regência. Foto: acervo pessoal – Carlaízes Borges

Colega de turma de professor Renato, Hoje, Carlaízes Borges também atua como docente de música, no curso técnico em regência, promovido Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec) e pela Secretaria de Educação do Ceará (Seduc). Além da atuação em equipamentos públicos, professora Carlaízes desenvolve mentorias particulares, na área do canto popular e técnica vocal, e atua como regente coral e preparadora vocal – em diversos grupos, festivais, eventos sacros e recitais.

Entendo a área musical como um grande celeiro de possibilidades profissionais, que, assim como as demais áreas, exige respeito, dedicação e objetivos a serem almejados. Particularmente, sinto-me contemplada em minha escolha profissional. E faria novamente!”, disse.

“Consegui vencer a minha timidez”

O atual coordenador do curso de música da UFCA, professor João Luís, formou-se em música na UFC em Fortaleza, após assistir a algumas aulas do curso como ouvinte, em 2008. Para João, as artes (e particularmente a música) são capazes de desenvolver a sensibilidade intrínseca aos seres humanos.

“Das linguagens artísticas, a música é a que mais está presente no nosso cotidiano. O ato de ouvir é considerado um ato de cura. Quando você aprimora a sua escuta, você está trazendo mais qualidade para a sua vida, desenvolvendo seu senso estético, a serenidade para as adversidades do dia a dia e a dimensão emocional”, acredita o docente da UFCA, para quem a música foi uma importante ferramenta para vencer a timidez.

Professor João Luís Soares, atual coordenador do curso de música da UFCA.
Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

O violonista Thales Wesley Dantas, egresso do curso de música da UFCA, concorda que a graduação demanda a superação da timidez: “Para quem tem dificuldade em encarar exposição ao público, o curso de música pode ser desafiador no início. Os recitais geram ansiedade na maioria dos estudantes, que precisam expor seu desenvolvimento no instrumento ao longo do semestre”, detalha.

Natural de Mauriti-CE, Thales ingressou na UFCA com apenas 17 anos e concluiu os estudos da universidade com a distinção acadêmica Summa cum Laude, a mais prestigiada entre as três concedidas pela universidade.

Além de uma trilha acadêmica exemplar na graduação, a conquista da Summa cum Laude demanda a realização de uma ação acadêmica de impacto, como um registro de patente, a aprovação em curso de mestrado/doutorado, ganho de medalha ou honraria de reconhecimento nacional e publicação de artigo científico relevante. Thales, ainda antes de finalizar o curso, foi aprovado no mestrado em música da Universidade de São João Del Rey (UFSJ), em Minas Gerais, e assim conquistou a Summa cum Laude.

Thales Wesley Dantas, egresso do curso de música da UFCA.
Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

“Participei de grupo de câmara de violões, do Pibid, da Residência Pedagógica, do Programa de Iniciação à Docência e de um grupo de pesquisa de fomento ao Reisado do Juazeiro do Norte. Tudo isso fortaleceu meu currículo de uma forma que foi essencial para minha aprovação rápida no mestrado. Além disso, a partir do meu professor de violão da UFCA [Cleyton Fernandes], conheci grandes nomes do instrumento, que nunca havia pensado em conhecer pessoalmente”, celebra Thales.

Atualmente, o egresso da UFCA avalia oportunidades de doutorado no Brasil e no exterior. Com a possibilidade de realizar doutorado fora do país, Thales se dedicou ao estudo do inglês durante a graduação e já alcançou proficiência no idioma.

Reuni e a interiorização das Ifes

O objetivo principal do Reuni, desde a sua criação, vem sendo aumentar a oferta de vagas em cursos presenciais de graduação e, ao mesmo tempo, elevar a média de conclusões desses cursos.

Até o lançamento do programa, o acesso às universidades e aos institutos federais, no país, estava concentrado nos grandes centros urbanos do Brasil – e no Ceará não era diferente. Um reflexo disso era que, no início dos anos 2000, apenas 24,3% dos jovens brasileiros com idade entre 18 e 24 anos, em média, tinham acesso ao ensino superior. 

Aumentar o acesso ao ensino superior nessa faixa etária passava, necessariamente, por ampliar oportunidades de cursos gratuitos em pequenas e médias cidades, de todas as regiões do país. Mais do que isso, porém, era preciso pensar na oferta de condições de permanência dos futuros estudantes (sobretudo aqueles em vulnerabilidade socioeconômica) e em horários que contemplassem estudantes trabalhadores (o que implicava no oferecimento de cursos noturnos).

Para aderir ao Reuni, as Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) deveriam preparar planejamentos para utilização dos recursos do programa, especificando os cursos que ofereceriam e o que seria necessário para executar esse planejamento. 

Das 54 Ifes de então, 53 aderiram ao Reuni e, logo no primeiro ano de implementação do programa, houve um aumento de quase 15 mil vagas em cursos presenciais públicos federais, que permitiu o alcance da marca de 147.277 vagas em todo país, no ano de 2008. Em 2014, o número Ifes chegou a 63 instituições. Hoje, o Brasil mantém 69 Ifes e dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet).

Expectativas para o futuro do curso de música

Eu vejo com muita felicidade esse período de 15 anos passados, que anunciam 15 anos vindouros, no sentido da busca, procurando formar professores que se apropriem da sua cultura, das suas possibilidades de fazer arte, de fazer música.
Elvis Matos, docente da UFC.

O desafio atual é tornar o curso cada vez mais atento aos saberes e fazeres da região, entendendo que a educação musical deve ser contextualizada, e, ao mesmo tempo e consequentemente, deve também estar atento às novas tecnologias.
Márcio Mattos, docente da UFCA.

Daqui a 15 anos teremos pessoas formadas no curso bastante influentes no cenário da cultura cearense e brasileira. Espero que o Curso de Música continue sendo positivamente marcante para muitas outras pessoas como foi para mim.
Carlos Renato Brito, docente da UFCA.

Para os anos vindouros, eu desejo muita iluminação para essa graduação que é tão cara para a nossa região! Desejo que não falte inspirações sonoras para que a composição da vida que toca tantos não cesse! Desejo que os professores continuem firmes em seus propósitos com a música! E que novos horizontes possam se fazer enxergar! Vida longa ao curso de música!
Carlaízes Borges, professora e musicista.

Encaro o curso de Música como minha segunda casa e os colegas docentes como amigos muito chegados. Em relação ao futuro, almejo sinceramente que as próximas gerações de professores formados estejam cada vez mais aptas a atuarem como docentes nas mais diferentes esferas da Educação Musical na região do Cariri.
Isaura Rute, docente da UFCA.

Eu espero que a gente consiga expandir a atuação do curso e implantar um mestrado e um doutorado em educação musical. Por que não sonhar?
João Luís Soares, docente da UFCA

Serviço

Curso de Música
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