Pesquisadores da UFCA descobrem moléculas em plantas da Chapada do Araripe que podem inibir infecção por covid-19
Publicado em 11/09/2023. Atualizado em 11/09/2023 às 15h11
Pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Cariri (CCAB/UFCA), em parceria com outras seis instituições brasileiras, descobriram que moléculas obtidas em plantas da Chapada do Araripe podem inibir a infecção por diferentes variantes do vírus Sars-Cov-2, causador da covid-19.
O resultado da pesquisa foi publicado, em formato de artigo científico, neste mês de setembro, na revista Viruses, periódico internacional especializado em estudos virais (classificação A2, no Qualis Periódico/Capes). Entre os resultados, o estudo mostrou que as moléculas das plantas foram capazes de inibir em até 95% a infeção das variantes Omicron, Gama e Wuhan-Hu-1.
Estudo
A pesquisa investigou moléculas obtidas das espécies Canavalia brasiliensis, conhecida popularmente como feijão bravo, e Dioclea violacea, conhecida como mucunã. As moléculas utilizadas nos testes foram isoladas no Laboratório de Biologia Estrutural e Molecular (LaBEM – CCAB/UFCA) pelo professor e pesquisador da UFCA, Claudener Teixeira, e pelo estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Romério Silva, orientando de Claudener.
“Diferente de outros fármacos utilizados em estudos mais avançados, os nossos resultados mostraram que as moléculas das plantas foram capazes de se ligar a moléculas de açúcares contidos no vírus, e assim, impedir que o Sars-CoV-2 possa se ligar às células e infectá-las. Esses resultados podem abrir caminhos para uma nova abordagem de fármacos com potencial antiviral para Covid-19”, ressaltou Claudener Teixeira.
Os ensaios antivirais foram liderados pela professora e pesquisadora Ana Carolina Gomes Jardim, do Laboratório de Pesquisa Antiviral, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICBIM), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e pela estudante de doutorado, Victória Riquena Grosche.
Com o resultado encontrado, Victória Riquena dará continuidade com demais estudos sobre essas moléculas na Universidade de Leeds, na Inglaterra. Os próximos passos da pesquisa serão avaliar mecanismos antivirais in vitro (realizados fora de um organismo vivo) e, em seguida, iniciar a fase de testes em animais.
Além da participação da UFCA e da UFU, o estudo contou com pesquisadores/as da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Ceuma (São Luís – MA), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).
Uso sem acompanhamento pode causar intoxicação
Apesar dos resultados positivos, o professor Claudener Teixeira alerta que o uso das espécies em estudo não é recomendado para o tratamento de infecções virais ou de qualquer outra doença. A pesquisa desenvolvida, conforme explicou o pesquisador, foi conduzida com moléculas isoladas em laboratório por uma equipe especializada.
“O uso das plantas nos tratamentos de doenças, sem acompanhamento ou recomendação médica, pode ocasionar intoxicação por outras substâncias que a planta pode conter”, ressaltou o professor.
Importância para o LaBEM – CCAB/UFCA
De acordo com o pesquisador Claudener Teixeira, que também é coordenador do LaBEM e atual pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFCA, esse estudo tem grande relevância para o Laboratório, pois traz como protagonista uma substância que já é estudada pelo grupo de pesquisa na Universidade, há sete anos.
Para Claudener, a publicação do estudo mostra também a importância de estudar as moléculas presentes nas plantas da Chapada do Araripe e o protagonismo que o laboratório vem tendo nos últimos anos, em termos de inserção nacional e agora também internacional.
O pesquisador informou ainda que o grupo que publicou o artigo científico tem interesse em patentear os resultados, submetendo um processo de patente ao Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI).
“Trabalhar com covid é um estudo que precisa ser rapidamente publicado, porque a todo momento a comunidade científica está buscando informações sobre essa doença. Nós optamos, antes de fazer a patente, já submeter o artigo e publicar, mas, paralelo a isso, já estamos discutindo as questões das patentes”, explicou.
Serviço
Laboratório de Biologia Estrutural e Molecular (LaBEM – CCAB/UFCA)
@labem_ufca