Projetos de iniciação à docência incentivam estudantes a adquirir habilidades com o ensino e a seguir carreira acadêmica

Entrar na universidade não é apenas uma forma de acesso a uma profissão. É também uma possibilidade de ter contato com pessoas diferentes, visões de mundo diversas e múltiplas atividades. Estar em uma universidade é uma possibilidade de formação que garante não só ensinamentos técnicos, mas crescimento pessoal e humano, possibilitando que os/as estudantes sejam atravessados por uma reconfiguração de valores que apresentam novos horizontes a serem seguidos. 

Durante este ano, a Diretoria de Comunicação da Universidade Federal do Cariri (UFCA) publicou a série Protagonismo Estudantil, no portal da UFCA, com a intenção de mostrar as mais diferentes oportunidades que os/as discentes passam a ter, depois de ingressar no ambiente universitário. 

A série apresentou experiências de estudantes e egressos no movimento estudantil e em projetos de Pesquisa, Extensão, Ensino e Cultura. Mostrou também o mundo que se abre com as experiências de intercâmbio fora do país.

Nesta terça-feira, dia 12 de dezembro de 2022, para concluir a série, será a vez de mostrar como projetos de iniciação à docência incentivam os estudantes a adquirir habilidades com o ensino em sala de aula e a seguir carreira acadêmica. Na UFCA, três principais ações proporcionam essa experiência aos/às estudantes: o Programa da Iniciação à Docência (PID), o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e o Programa de Residência Pedagógica, esses dois últimos voltados para as licenciaturas.

PID

O PID é um programa de monitoria em alguma disciplina do curso que possibilita o engajamento do estudante em atividades de ensino, com a intenção de desenvolver habilidades docentes. Além disso, estão envolvidas vivências com múltiplas relações entre teoria e prática, sob acompanhamento e supervisão do/a professor/a-orientador/a. Na UFCA, o PID é coordenado pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFCA).

Para participar do programa, os/as monitores/as são selecionados anualmente por editais específicos, com vagas para estudantes bolsistas ou voluntários/as. Aqueles/as contemplados/as com bolsa recebem R$ 400/mês, durante, no máximo, dez meses. 

Pibid

Atividades de ensino também podem ser desenvolvidas por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). É uma iniciativa que tem como finalidade fortalecer as licenciaturas, ou seja, aqueles cursos em que o estudante se forma com habilitação para a docência. Na UFCA, atualmente, cinco cursos têm bolsistas Pibid: Letras/Libras, Filosofia, Música, Licenciatura Interdisciplinar em Ciências e Matemática e Pedagogia. 

De acordo com a coordenadora institucional do Pibid na UFCA, professora Francione Charapa, a cada período, a Universidade inscreve um projeto institucional com as licenciaturas. Aprovado o projeto pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a instituição seleciona os bolsistas por área. Atualmente, a UFCA está desenvolvendo o projeto que aprovou 96 bolsas, durante 18 meses. Recebem bolsas o estudante, o supervisor da escola básica, os coordenadores de área e o coordenador institucional.

As bolsas destinadas aos estudantes custam R$ 400,00/mensais, pagas pela Capes. Segundo Francione, no Pibid, os estudantes passam a acompanhar as atividades das escolas. “Eles vão desenvolver atividades acompanhadas com o professor em sala de aula. Desenvolver projetos junto com o professor, observar a sala de aula, estar sempre acompanhando o trabalho do professor”, explicou. O Pibid é uma atividade para quem tem menos de 60% do currículo integralizado.  

Residência Pedagógica

O Programa de Residência Pedagógica, pensado pela Capes também para fortalecer as licenciaturas, proporciona aos estudantes de graduação a possibilidade de atuarem no ensino básico. Voltado para discentes que tenham cursado o mínimo de 50% do curso ou que estejam cursando a partir do quinto semestre, o programa contribui para a formação de professores/as, levando o/a estudante de licenciatura para dentro da escola. 

Conforme o coordenador institucional da Residência Pedagógica na UFCA, professor Márcio Mattos, atualmente estão aprovados quatro projetos de residência na Universidade: Filosofia, Letras-Libras, Música e Multidisciplinar (para os estudantes do Instituto de Formação de Educadores, em Brejo Santo). É a terceira vez que a UFCA tem projetos aprovados no Programa de Residência Pedagógica. 

Cada estudante recebe bolsa de R$ 400,00 por mês, enquanto durar cada projeto aprovado (18 meses). Durante o período, são desenvolvidas, nas escolas, atividades de formação na área de licenciatura, que podem ser utilizadas como estágio supervisionado. 

“Tem o período de formação, depois tem o período de observação da escola, observação da dinâmica da instituição, observação de como o professor dá aula. (…) E também tem o período de regência. Esse é o momento que os alunos vão fazer sua atividade prática, eles vão atuar dentro da escola como futuros professores”, explicou Márcio Mattos. 

Vivência em sala de aula

Nascido e criado no Cariri, Geneilson Lino da Silva, hoje professor concursado do Estado do Ceará, cursou a licenciatura em Música na UFCA. Entrou na primeira turma, ainda em 2010, quando a instituição era um campus da Universidade Federal do Ceará (UFC). No segundo ano de curso, Geneilson ingressou no Pibid para atuar em escolas públicas da região. “Entrei na licenciatura, porque sempre quis ser professor. O Pibid era o que fazia mais sentido para mim naquele momento”, contou. 

Durante o período que ficou ligado ao projeto, o egresso teve a oportunidade de atuar em uma escola da rede pública estadual em Juazeiro do Norte. Entre as atividades desenvolvidas, estavam as oficinas de música (violão, coral e percussão) para os estudantes, além da participação no componente curricular Artes, sempre acompanhado pelo coordenador (da escola) e pela professora supervisora do programa (da UFCA). “A gente oferecia atividades no contraturno e tinha chance de dar aula de Artes também”, disse. 

Maria Lucélia Gomes, estudante de Biologia da UFCA, egressa do curso de Licenciatura Interdisciplinar em Ciências e Matemática, também teve a oportunidade de estar em sala de aula em uma escola pública da região do Cariri, enquanto cursava a primeira graduação. No caso de Lucélia, a experiência ocorreu por meio das atividades da Residência Pedagógica. “Achei interessante a proposta. É de grande importância a participação em projetos como esse para alavancar a nossa vida profissional como futuros docentes, além de ser ótimo para o currículo”, destacou. 

Enquanto esteve no projeto, Lucélia desenvolveu atividades de regência em sala de aula. O momento de regência é o período em que o estudante da licenciatura vivenciará a prática de dar aula para discentes da educação básica. Conforme Lucélia, durante a regência, ela e os demais colegas eram acompanhados pelo professor preceptor (da escola), que orienta e acompanha o desenvolvimento das aulas. Além dessas atividades, ela também participou de estudos sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e formações sobre o tema durante o período de Residência Pedagógica.

Habilidades adquiridas

Para Lucélia, a participação na Residência Pedagógica foi uma oportunidade de adquirir habilidades e competências para atuar em sala de aula. “A partir dessas atividades, adquiri experiência como docente com os alunos do ensino médio. Pude observar como é a realidade na sala de aula e percebi que é necessário que o professor procure inovar e utilizar metodologias novas para atrair a atenção dos alunos como também tornar as aulas mais prazerosas”, ressaltou a estudante. 

Já no Pibid, Geneilson conta que adquiriu habilidades que foram fundamentais na sua carreira atual na docência, como o trabalho em equipe, a autogestão e a capacidade de falar em público. “A capacidade de trabalhar em equipe é mais do que necessária na atuação dentro do Pibid. A própria autogestão, se tratando de organização de horários, materiais e planejamentos das atividades. E ainda o desenvolvimento da capacidade de falar em público, pois sempre fui mais tímido e reservado, porém através das atividades desenvolvidas no Pibid pude trabalhar muito isso em mim”, explicou. 

José Tiago Barroso Chagas, egresso do curso de Agronomia da UFCA, adquiriu habilidades com a docência, enquanto foi monitor de disciplinas na graduação, por meio do PID. “Eu sabia que esse programa era muito importante para o meu futuro profissional, seja para seleções de mestrado, seja para as demais atividades que eu fosse desempenhar. Eu realmente via naquilo um potencial bacana de contribuir com a minha formação”, contou o estudante que hoje está fazendo Doutorado em Genética e Melhoramento, na Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Tiago, quando desempenhou as atividades de monitoria, ajudou colegas do curso de Agronomia com dificuldades na área de cálculos de genética e de estatística. “A partir do momento que você ajuda as pessoas nessa parte que é difícil para eles, você acaba se ajudando de outra forma, porque você entende quais são as dificuldades, você aprimora a sua forma de contato”, disse. Para ele, a monitoria foi importante para compreender a questão da didática e a forma de tratar e lidar com uma pessoa quando ela não está entendendo o que está sendo falado. 

João Alencar foi bolsista do PID durante dois anos, enquanto cursava Engenharia Civil. Ele desenvolvia atividades semanais de monitoria para os outros estudantes da graduação que tinham mais dificuldades para aprender alguns conteúdos e acompanhava as aulas práticas no Laboratório de Física. Além disso, na época, João ministrou três oficinas sobre tratamento de dados experimentais e participou do Grupo de Física Experimental da UFCA. 

“Durante o período que atuei como monitor, pude perceber o quão gratificante é ajudar os alunos com mais dificuldades e poder partilhar conhecimentos com as turmas e o quanto isso me tornava mais engajado em aprender sobre os conteúdos e sua aplicação no curso”, relatou. Além disso, ele contou que habilidades específicas aprendidas durante a monitoria sobre tratamento de dados experimentais ajudaram na elaboração do trabalho de conclusão de curso, em que ele aplicou conhecimentos de física dentro da engenharia civil.

Carreira na docência 

Toda a vivência em sala de aula, seja na educação básica ou na própria graduação, permite aos estudantes de iniciação à docência planejar a carreira como professor. Geneilson e Lucélia, por já terem optado pela licenciatura, sabiam que, depois da graduação, possivelmente iriam para uma escola. Já Tiago e João viram como um caminho possível a ser seguido. De uma forma ou de outra, as atividades de iniciação à docência contribuíram para que adquirissem novas habilidades e conseguissem ter a experiência necessária para iniciar na carreira docente. 

Geneilson é professor concursado do estado do Ceará desde 2014 e atualmente também faz mestrado em Artes pela Universidade Regional do Cariri (Urca). Ao longo dos anos, teve oportunidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos no Pibid, durante a vivência em sala de aula. Em 2020, chegou a chance de compartilhar os conhecimentos adquiridos não só com os alunos de ensino básico, mas também com os futuros colegas de profissão, estudantes de Música da UFCA. Isso porque Geneilson foi selecionado para ser supervisor do Pibid no projeto da UFCA.

Para ele, apesar de ter sido uma experiência complexa por conta da distância obrigatória das aulas presenciais no período da pandemia da covid-19, foi possível acompanhar os estudantes em formação e trazê-los para a sala de aula, de forma remota. “A gente tinha encontros semanais [ele e o bolsista Pibid]. Nesse momento pandêmico, a gente produziu vídeos com os alunos, fizemos uma página no instagram, aliando tecnologia nesse contexto remoto”, explicou. 

João, que fez Engenharia Civil, teve o primeiro contato com a docência em ensino superior no PID. Segundo ele, foi um incentivo para seguir carreira docente, assim que se formou. “Após o término do curso, fui aprovado como professor substituto da Universidade Regional do Cariri (Urca), na qual atuei durante dois anos e meio, no curso de Tecnologia da Construção Civil”, contou. Atualmente, ele é concursado em um banco público e desenvolve atividades de agente comercial. 

Mesmo que não esteja atuando diretamente como docente, o egresso acredita que as habilidades que aprendeu no PID são fundamentais no desenvolvimento das atividades. “As atividades de docência, embora pareçam não ser aplicadas no mercado financeiro, são de importante valia no tratamento de clientes com diferentes níveis de grau de instrução. Como na monitoria eu precisava ajustar a didática a cada aluno de modo a otimizar o aprendizado, também preciso ajustar a abordagem a cada cliente que recebo no banco”, explicou. 

Tiago, que desde o ensino médio dizia que não queria ser professor, hoje, fazendo o doutorado, já compreende como uma possibilidade de caminho futuro. “Hoje meu desejo é ser professor, e o programa de iniciação à docência é uma dessas portas que te mostra o outro lado. A gente sabe que no Brasil é muito desvalorizada a profissão de professor. (…) Mas a profissão é realmente muito nobre e você vê que quanto mais ensina, mais aprende. Às vezes você está mais aprendendo do que está ensinando, é sempre uma troca”, ressaltou. 

Serviço

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