Série Protagonismo Estudantil retoma conteúdos com Programa de Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis (Pacce)

Publicado em 21/05/2024. Atualizado em 21/05/2024 às 16h49

Isabela Magalhães, discente da UFCA, passou a fazer parte do Pacce em 2023. Foto: Davi Moreira - Dcom/UFCA

O Programa de Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis (Pacce) marca a retomada, neste ano, da série Protagonismo Estudantil. Iniciada em 2022 pela Diretoria de Comunicação da Universidade Federal do Cariri (Dcom/UFCA), a série traz reportagens sobre experiências que estudantes de graduação da UFCA podem ter fora da sala de aula e suas possíveis repercussões. Em 2024, a série abordará, além do Pacce, as empresas juniores e as ligas acadêmicas.

Como descrito no Edital Nº 05/2024/Prograd/UFCA, de seleção de bolsistas para o programa, o Pacce “tem por fundamento a condução das aprendizagens pelos estudantes, com ênfase no diálogo, experiência e liberdade”. 

Na prática, o Pacce funciona como um conjunto de grupos de estudo, orientados por um/a tutor/a, mas conduzidos pelos discentes, de forma independente. Cada um desses grupos de estudo é formado para que os próprios estudantes se apoiem mutuamente em termos de aprendizado, para que os desafios acadêmicos enfrentados durante a graduação na UFCA sejam superados.

O objetivo é contribuir com o aumento da taxa de conclusão dos cursos de graduação, promover a sinergia entre cursos das unidades acadêmicas da UFCA e formar profissionais competentes, proativos e habilitados.

Escola em Casa de Farinha

O Pacce se inspira em uma iniciativa muito anterior, do ano de 1994, proposta pelo professor de química da Universidade Federal do Ceará (UFC), Manoel Andrade Neto. Naquele ano, sete jovens da comunidade do Cipó, na cidade de Pentecoste-CE, foram incentivados a estudarem juntos, em uma casa de farinha: um espaço comumente usado em pequenas comunidades para produzir farinha a partir da mandioca. O objetivo do estudo em mútua cooperação era obter escolaridade e ingressar no ensino superior.

Em 1998, essa iniciativa foi registrada como um projeto na Pró-Reitoria de Extensão da UFC, intitulado “Escola Alternativa”. No mesmo ano, mudou novamente de nome, passando a se chamar “Projeto Educacional Coração de Estudante”. Em 2004, o projeto passa a ser conhecido como Programa de Educação em Células Cooperativas, o Prece.

Em 2009, o então pró-reitor de Graduação da UFC, professor Custódio Almeida (hoje reitor da instituição), convidou o professor Manoel Andrade a elaborar um programa acadêmico baseado nessas chamadas Células de Estudo, surgindo assim o Pacce.

Segundo o professor do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT/UFCA), Marcelo Santiago, o programa – inspirado pela experiência em Pentecoste – foi implementado na UFC campus Cariri (hoje UFCA) também no ano de 2009. A primeira turma de bolsistas Pacce é do ano de 2011. “No ano de 2013, quando o campus Cariri se desmembrou da UFC e passou a ser a Universidade Federal do Cariri (UFCA), a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFCA) manteve os mesmos programas acadêmicos que já existiam, e o Pacce foi um deles”, relembrou.

“Tive a oportunidade de aplicar conhecimentos teóricos na prática”

Por mais que pressuponha acompanhamento de uma tutoria que oriente e planeje atividades junto ao/à discente responsável pela monitoria, o Pacce é um programa que se sedimenta na responsabilidade individual e proatividade dos seus integrantes.

A estudante do curso de Física do Instituto de Formação de Educadores (IFE/UFCA), Érika Sousa, ingressou no curso em 2019 e foi bolsista do programa durante o ano de 2023. Érika pontua como essa proatividade é presente desde o processo de seleção: “⁠Essa dinâmica permitiu que eu desenvolvesse meu próprio projeto, o que foi fundamental para minha formação acadêmica e pessoal. Tive a oportunidade de aplicar conhecimentos teóricos na prática, além de aprimorar minhas habilidades de comunicação e liderança”, relata.

Érika é egressa do curso de Física, ofertado pela UFCA no campus campus Brejo Santo. Foto: arquivo pessoal

Ela ainda explica como o projeto a ajudou no desenvolvimento de habilidade de trabalho em equipe: “trabalhei em colaboração com outros bolsistas e profissionais da área. Além disso, [a experiência] estimulou minha proatividade, ao lidar com os desafios e buscar soluções de forma independente”.

Érika também fala sobre seu processo de seleção e a ideia do seu projeto: “A ideia era proporcionar aos alunos uma abordagem prática e contextualizada da Física, indo além dos cálculos e explorando aspectos filosóficos e históricos da disciplina. A elaboração do projeto foi um processo de pesquisa, planejamento e definição de atividades que melhor atendessem aos objetivos propostos”, resume.

“Para algumas pessoas, a célula estudantil foi o primeiro projeto em que se envolveram na faculdade”

A estudante Catharina de Oliveira, do curso de Medicina Veterinária da UFCA, no campus Crato, foi bolsista Pacce nos anos de 2021 e 2022.

Em seu primeiro ano, participou do projeto durante o período de pandemia da covid-19, e todas as atividades acadêmicas da UFCA estavam acontecendo de forma remota. Na época, Catharina propôs um projeto com o intuito de ajudar estudantes da disciplina de Anatomia, que, segundo ela, exige prática dos alunos, que não poderiam ser executadas no formato EaD.

“A disciplina exigia que a gente estivesse aqui, vendo as coisas e tudo mais. Eu senti que a gente teve carência nesse sentido. Quando elaborei meu projeto, pensei em basear em algo que fosse importante pra gente e que, querendo ou não, a gente tivesse um certo déficit nesse assunto. Foi aí que eu criei a célula de Anatomia”, disse Catharina.

Catharina é discente do curso de Medicina Veterinária da UFCA e participou do Pacce nos anos de 2021 e 2022. Foto: arquivo pessoal

Assim, a célula influenciou significativamente na formação dos estudantes do curso de Medicina Veterinária participantes da Célula idealizada por Catharina, promovendo o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade. Além de cultivar o pensamento crítico, o Pacce serviu, para eles, como uma porta de entrada para um vínculo mais forte com a faculdade.

“Para algumas pessoas, a célula estudantil foi o primeiro projeto em que se envolveram na faculdade e, depois disso, começaram a participar de projetos de Extensão”, explica Catharina. Ela também ressalta com entusiasmo como a célula influenciava positivamente no companheirismo  entre seus colegas de turma, além de aprender a trabalhar em equipe e compreendendo a importância do trabalho coletivo para o sucesso do projeto.

Catharina reforça o impacto positivo desse projeto nos participantes: “Foram projetos que, pelos comentários e pelas avaliações dos membros das células, influenciaram e ajudaram muito tanto na vida acadêmica como fora dela”. 

Ainda conforme a discente, essas iniciativas não apenas contribuem para o sucesso em disciplinas acadêmicas, mas também desempenham um papel crucial no desenvolvimento de competências práticas (como estágios), além de auxiliar na idealização e execução de novos projetos.

Para ela, o Pacce se configura como um recurso crucial para o seu desenvolvimento acadêmico e pessoal e de vários de seus colegas, reforçando a necessidade de ampliar a divulgação do programa e, consequentemente, a valorização dele junto à comunidade estudantil.

“Quando você produz, você se sente parte daquilo”

Emanuela é estudante de Medicina na UFCA. Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

Emanuela Ana, estudante de Medicina da UFCA, enfatiza como a construção e a troca de conhecimento dentro do projeto contribuíram significativamente para seu bom desempenho acadêmico como estudante universitária: “Uma coisa é você receber o conhecimento pronto e outra coisa é você produzir esse conhecimento e ir construindo ele na sua cabeça”, disse. 

A estudante explica, ainda, como a dinâmica de aprendizagem cooperativa existente no Pacce fortalece competências necessárias para sua formação: “Cada aluno, mesmo sem ser articulador [de célula], é responsável por parte do conhecimento que é construído. É necessário ir atrás do conhecimento, pesquisar… Isso não por obrigação, mas porque o aluno quer. Basicamente, você é proativo. Não porque você tem que ser proativo, mas porque isso ajuda no amadurecimento de competências necessárias para a nossa formação”, reflete.

Emanuela explica que existe uma diferença na aprendizagem e no conhecimento dos estudantes que participaram do projeto: “No fim do ano, sempre fazíamos uma reunião geral para ter um feedback sobre os resultados das atividades, fazendo uma pesquisa com os alunos que participaram e comparando [os resultados obtidos por eles] aos dos outros alunos que não participavam de projetos. E não só conhecimentos de partes técnicas para a faculdade, mas de princípios que podem ser levados para a vida pessoal relacionados ao trabalho em equipe. São conhecimentos que vão além do tecnicismo. É claro que [o conhecimento técnico] é importante, mas um dos maiores impactos é o que vai além do técnico, para o humano”.

Ela também fala sobre o desconhecimento do Pacce por boa parte da comunidade discente e se questiona o porquê disso: “Quando as pessoas entram na universidade, não conhecem o Pacce e, quando vão conhecer, é muito mais à frente. Isso se conhecerem. Eu dei muita sorte de entrar em contato [com o Pacce] no primeiro semestre, por conta de alguns amigos que faziam parte de uma célula. Eu realmente não sei por que isso acontece, já que, sempre que turmas novas entravam na faculdade, a gente sempre apresentava os projetos existentes para eles, mas vale questionar o motivo disso”.

“Em prol de ajudar outros alunos que também sentiram essa dificuldade”

Estudante do curso de Engenharia Civil da UFCA, Isabela Magalhães ingressou no curso no primeiro semestre do ano de 2019. Ela explica que, no contexto do Pacce, quando se propõe um projeto de célula de aprendizagem, os discentes devem explicar quais os objetivos e por que o projeto é relevante.

Isabela ingressou no curso de Engenharia Civil da UFCA em 2019. Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA

A discente conta que, quando chegou ao sexto semestre do curso, deparou-se com duas disciplinas relacionadas a projeto e construção: a de Infraestrutura Viária e a de Edifícios I. Ambas usam um programa chamado Revit: um software para as áreas de Arquitetura, Urbanismo, Engenharia e Design, desenvolvido dentro do conceito da chamada Modelagem da Informação da Construção (BIM). A BIM é uma metodologia que envolve várias ferramentas, tecnologias e contratos para a geração e gestão de representações digitais das características físicas e funcionais de construções.

“Durante a graduação, cursei algumas cadeiras relacionadas a projetos da Engenharia Civil, mas senti um déficit muito grande na aprendizagem do programa. Mesmo não sendo um programa muito difícil de usar, ele também não é tão intuitivo. Quando eu peguei as disciplinas de projetos, eu não tinha nenhum conhecimento da área e senti muita dificuldade nessas disciplinas. Isso foi o que mais me motivou a propor o meu projeto”, relata.

Isabela acrescenta, ainda, que essa dinâmica do Pacce permitiu autonomia suficiente para ela usar outras estratégias e atividades que a ajudavam a compreender e entender melhor o objeto de estudo da disciplina, o que “tornava mais fácil entender as especificidades e dificuldades de cada estudante e conseguir ajudar outros alunos que também sentiram essa dificuldade”.

Em relação à configuração do grupo de estudos, Isabela explica que, em células Pacce, não há uma figura de autoridade, de forma que todos os participantes estão em níveis similares, aprendendo juntos: “Existe um articulador que é quem pensa e monta as principais estratégias, mas todo mundo contribui para isso. O articulador tem a ideia inicial, mas, durante o grupo, trazemos construções em conjunto”. 

A graduanda conta ainda como essa configuração do projeto trouxe muitas contribuições e impactos em sua vida pessoal e em seu currículo: “No Pacce, a gente entende que o sucesso de um não significa nada se o grupo não tiver sucesso. Então, nós estamos colaborando para um sucesso maior. Isso foi muito importante para trabalhar a responsabilidade e essa ligação entre os integrantes do grupo”, finaliza.

Serviço

Pró-Reitoria de Graduação
Coordenadoria para o Fortalecimento da Qualidade do Ensino
Programa de Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis (Pacce)
pacce.prograd@ufca.edu.br