Terceira noite da Mostra UFCA debate papel da universidade na defesa da democracia

Publicado em 07/11/2018. Atualizado em 31/10/2022 às 11h21

Romênia Gomes (DCOM/UFCA)

A terceira noite da programação da Mostra UFCA,nesta quarta-feira (7), levou para o auditório Beata Maria de Araújo do campus Juazeiro do Norte discussões sobre análise de materiais e história das universidades. Esteve presente o Reitor da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Ricardo Lange Ness, que voltou de recente encontro, em Brasília, com gestores das universidades públicas brasileiras “novas”/”novíssimas” e ainda com representantes do Ministério da Educação (MEC).

A primeira fala da noite coube ao engenheiro químico Sandro Burgos de Carvalho, que ministrou a palestra “Técnicas e soluções inovadoras para pesquisa de materiais”. Sandro – que representa uma empresa alemã de técnicas analíticas, há 20 anos no Brasil – tratou de equipamentos que proporcionam a análise de materiais em escalas menores que as feitas, por exemplo, com microscópios eletrônicos. Esses equipamentos, que utilizam técnicas como fluorescência e difração de raios-x, têm como diferenciais o menor custo financeiro e a simulação de amostras em diferentes cenários de temperatura e pressão: “analisar materiais em escalas tão diminutas, como poucos micrômetros ou mesmo nanômetros, em temperatura ambiente ou em altíssimas temperaturas, permite melhorar a fabricação de vidros, concretos e medicamentos – pela microanálise dos compostos desses materiais – e também simular o comportamento desses compostos em condições de temperatura e pressão distintas da ambiente. Para medicamentos, isso é especialmente interessante, pois mudanças leves de temperatura já são capazes de alterar algumas das suas propriedades e, com isso, alterar também seus efeitos”, explicou.

Ainda de acordo com Burgos, essas técnicas não são novas, mas estão sendo bem mais usadas do que foram no passado, principalmente pelos importantes resultados que a indústria vem conquistando com sua aplicação: “Temos equipamentos usados para pesquisas acadêmicas em várias universidades públicas pelo Nordeste do Brasil. As indústrias só compram esses equipamentos porque seus benefícios já foram experimentados nos centros de tecnologia das universidades públicas. É por isso que as consideramos nossas parceiras”, disse.

Mesa Redonda

Em seguida, teve início a mesa redonda “Perspectivas da Democracia e o papel da Universidade Pública”, formada pelo Reitor da UFCA, Ricardo Ness, pela filósofa professora da UFCA, Camila Prado, e pela pedagoga Zuleide Queiroz, professora da Universidade Regional do Cariri (Urca), da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte (FMJ) e da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN). A mesa foi mediada pelo sociólogo professor da UFCA, Augusto de Oliveira Tavares.

Abrindo a mesa, professora Zuleide recordou o surgimento das universidades – que vieram das antigas “escolas de altos estudos” – e lembrou que a presença, no ensino superior, de pessoas com menor representação política ocorreu com séculos de reivindicações e debates em todo o mundo: “Se mulheres e negros analisarem ilustrações que retratam o início do ensino, no tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles, talvez não se vejam representados. Esses espaços [universidades] não surgiram pensados para todos. E hoje eu encontro uma plateia plural aqui na UFCA. Isso vem de intensas lutas e é importante que nós nos mobilizemos para que se mantenha”, disse.

A professora fundamentou ainda prerrogativas das universidades públicas brasileiras que vêm sendo questionadas por parte da população, mas que são legalmente referendadas, como a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber” (Art. 206, II, CF) e a “autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial” (Art. 207, CF): “Não tiramos essas coisas da nossa cabeça. Está tudo na Constituição de 1988. A universidade, hoje, é um lugar de estímulo à criação cultural, ao desenvolvimento do espírito científico e ao pensamento reflexivo. É um lugar de debate permanente”, afirmou.

Complementando a primeira fala, Camila Prado disse que o ambiente de desconfiança que se instaurou no Brasil não ameaça a democracia em si, mas um projeto democrático que vinha sendo perseguido: “a democracia nunca se consolidou de todo no Brasil, mas nós acumulamos algumas conquistas e é isso que está em risco agora. Lembrando o que dizia Florestan Fernandes, não existe Estado democrático sem educação democrática”, argumentou. Ainda sobre o surgimento das universidades no mundo, a professora explicou a origem do termo “universidade”:  a primeira universidade do mundo, a de Bologna, surgiu no século XI, sob o título universitas scholarium, ou ‘universo de estudantes’. Esse scholarium vem da palavra grega scholé, que significa ‘lugar de ócio’. Esse ‘ócio’ se opõe a ‘negócio’, ou seja, o tempo na universidade é diferente do tempo do trabalho. A universidade, então, começa abertamente elitista. Só com a Revolução Francesa começou a se ter uma ideia de universidade para todos, para trabalhadores. No Brasil, já demos muitos passos nesse sentido”, disse. Para exemplificar os avanços na democratização do ensino superior no Brasil, a filósofa trouxe dados produzidos pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes): “muitas pessoas ainda reproduzem o pensamento de que a universidade pública deveria cobrar mensalidade porque só consegue estudar lá quem vem de família rica, mas atualmente 65% dos estudantes das instituições federais de ensino superior têm renda familiar abaixo de 1,5 salário mínimo”.

“Aqui na UFCA, 81% dos nossos estudantes tem renda per capta familiar inferior a R$ 800,00”, destacou o Reitor Ricardo Ness, no seu tempo de fala. Para exemplificar como a educação deveria ser vista pela população brasileira, o Reitor citou a filósofa alemã Hannah Arendt, para quem “a essência dos direitos humanos é o direito a ter direitos”: “quando se trata de educação, não há ‘gasto’, há investimento. Educação não deve ser um privilégio, menos ainda um ‘serviço’, que se pode qualificar como caro ou barato. Todas as pessoas, na sua formação cidadã, têm direito a ter educação”, disse. Para Ricardo, o aumento da quantidade de estudantes com baixa renda familiar nas universidades públicas aumenta também a responsabilidade dessas universidades: “o valor do Auxílio Moradia [concedido a estudantes] é R$ 400,00. Pelo que eu escuto dos beneficiários, dá para fazer muita coisa com essa quantia aqui no Cariri, mas em outras regiões, como no Rio de Janeiro, isso é nada. Precisamos de mais auxílio estudantis, de mais bolsas, ou seja, de mais investimento na universidade. Não sabemos o que nos espera, mas vamos continuar levantando essa bandeira”, finalizou.

Acesse fotos da terceira noite da Mostra UFCA.

Mostra UFCA

A quinta edição da Mostra UFCA reúne a comunidade acadêmica, até o dia 9 de novembro, para apresentação de ações de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura desenvolvidas, em 2018, tanto na UFCA quanto em instituições de ensino diversas do Cariri. Ao todo, 553 atividades foram aprovadas para compor a programação acadêmica. A organização divulgou, ainda, a programação cultural da Mostra.

Destaque da Mostra UFCA, a Feira das Profissões e Estágios continua, nesta quinta-feira (8), no pátio do campus Juazeiro do Norte. Uma iniciativa da Pró-Reitoria de Ensino (Proen/UFCA) e da Diretoria de Articulação e Relações Institucionais (Diari/UFCA), a Feira das Profissões e Estágios é uma oportunidade para a comunidade conhecer os cursos ofertados pela UFCA e obter informações sobre estágios e mercado de trabalho.  

Serviço

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